sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Abertura



 
Pra variar esqueci da minha máquina ontem. Estas são as únicas fotos que tenho até agora e não representam tudo que foi. Sinceramente, eu me surpreendi com a quantidade de gente. Surpresa maravilhosa, muitos amigos nos prestigiando, um astral altíssimo. Aí nas fotos, a equipe da Pinacoteca da Ajuris. A Márcia Kern Papaléo, de  vestido preto. Vou ficar devendo por enquanto o nome das outras moças. Fui apresentada, mas naquela confusão ficou difícil de fixar.


Entrevista na TV Com

Ontem, antes de a exposição começar a bombar, a equipe da TV Com esteve lá e fez uma ótima reportagem sobre o Belchior. Embora eu me odeie no vídeo, acho que consegui falar tudo ou pelo menos explicar direitinho. Ainda bem que a maior parte do tempo eles mostraram os trabalhos. Valeu.

http://www.youtube.com/watch?v=wF_u0sJ1H88&feature=youtu.be

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Tudo pronto

Terminamos de montar o nosso Belchior hoje, dia 24. Agradecemos o auxílio luxuoso do Ponto de Arte, que emprestou a mesa da entrada e a cristaleira, que deixaram a nossa sala muito charmosa. Aqui estão as fotos da instalação. Mais abaixo, seguem outras postagens com as especificações das gravuras, objetos, móveis e seus preços. Esperamos os amigos amanhã, com muito carinho.






móveis e objetos de decoração à venda

Tratar diretamente com o antiquário e casa de leilões PONTO DE ARTE - fone 3023.2106


cristaleira em jacarandá com vidros facetados - R$ 7.500,00


mesa estilo Luis XV -R$ 1.900,00



objetos da cristaleira

1 - Cylene Dallegrave  - gravura em metal - R$ 100,00 (cópia única) vendido
2 - Cylene Dallegrave - infografia - R$ 60,00
3 -  Cylene Dallegrave  - xilogravura 2 cores e lápis de cor - R$ 100.00 (cópia única) vendido
4 - caixinhas com 5 gravuras em metal de Cylene Dallegrave, EdaLani Fabris, Lilia Manfroi, Mabel Fontana e Marcos Sanches - R$ - 140,00
5 - Eda Lani Fabris - litografia com folha em ouro - R$ 120,00
6 - Mabel Fontana - s/título – gravura em metal com chine collé – R$60 C/M -  R$50 S/M
7 - Mabel Fontana - s/título – gravura em metal com chine collé – R$60 C/M -  R$50 S/M
8 - Lilia Manfroi  - gravura em metal R$ 200,00 s/m R$180,00 selecionada no El Rinoceronte de Cristal, Madri.
9 - Lilia Manfroi - escultura em alumínio Homem Solto R$70,00
11 - Cylene Dallegrave - gravura em metal e lápis de cor - R$ 80,00 (cópia única) vendido
12 - Eda Lani Fabris - litografia - R$ 80,00
13 - Eda Lani Fabris - gravura em metalpaisagem em moldura de cobre - R$ 180,00
14 - Lilia Manfroi - Gravura em metal Galápagos R$50,00 - s/m R$35,00
15 - Lilia Manfroi - esculturas em alumínio  Homem e Mulher Apontando Caminho Pode ser vendida separado. R$140,00
16 - Marcos Sanches - gravura em metal em mini porta retrato R$ 60,00
17 - Cylene Dallegrave - gravura em metal 0 R$ 60,00
18 - Lilia Manfroi - escultura em bronze R$210,00 Esgrimista
19 - Lilia Manfroi - esculturas em alumínio R$60,00 cada 
20 - Lilia Manfroi - gravura em metal R$65,00 s/m R$40,00
21 - Lilia Manfroi - gravura em metal - R$ 60,00
22 - Gravuras em metal de Marcos Sanches e Mabel Fontana em caixas de CD - R$ 35,00
23 - Mini-porta retratos com gravuras em metal - R$ 40,00
24 - Cylene Dallegrave - gravura em metal em moldura de bronze - R$ 100,00 vendido
25 - caixinhas com 5 gravuras em metal de Cylene Dallegrave, EdaLani Fabris, Lilia Manfroi, Mabel Fontana e Marcos Sanches - R$ - 140,00
26 - toco de madeira simples em caixinha verde R$ 80,00
27 e 28 - Tocos de madeira duplos sem caixinha R$ 140,00


Ex-libris sob encomenda. Contatos através do blog.

Maria Tomaselli e Eda Lani Fabris



14 - Eda Lani Fabris -  paisagem - gravura em metal - ano 2012 - R$ 320,00

1 -
2 -
3 -
4 -

Marcos Sanches

1 -R$ 100; s/moldura 75
2 -R$ 60; s/moldura 50
3 -R$ 50; s/moldura 40
4 -R$ 120 s/moldura 90
5 -R$ 100; s/moldura 75
6 -R$ 50; s/moldura 40
7 -R$ 60; só com moldura
8 -R$ 80; s/moldura 50
9 -R$ 60; s/moldura 50
10 -R$ 30; só com moldura
11 -R$ 60; s/moldura 50
12 -R$ 70; s/moldura 60
13 -R$ 90; s/moldura 70

Mabel Fontana




1 – “Paisagem urbana” – gravura em metal – R$140 C/M – R$100 S/M
2 - S/ título – litografia com chine collé  - R$90 C/M  (cópia única)
3 – S/título – litografia com chine collé – R$90 C/M (cópia única)
4 – S/ Título – litografia em duas cores – R$240  C/M – R$190 S/M
5 – S/título – gravura em metal com chine collé – R$80 C/M – R$70 S/M
6 – “As sementes migratórias: O vento” – grav. em metal – R$130 C/M -  R$100 S/M
7 – “As sementes migratórias: Quantas ” – grav. em metal – R$ 130 C/M - R$ 100 S/M
8 – “Desconstrução I” – litografia com chine collé – R$ 110 C/M – R$ 100 S/M
9 – “ Cup, a visão” – litografia em quatro cores – R$ 130 C/M – R$120 S/M
10 – “Hearing your song” – lito em três cores – R$ 130 C/M – R$ 120 S/M  (cópia única)
11 - “Desconstrução II” – litografia com chine collé – R$ 110 C/M - R$ 100 S/M
12 – “Cais” – gravura em metal – R$ 100 C/M 

Lilia Manfroi




1- Quebra-cabeça R$125,00 s/m R$80,00
2- Aos céus - R$140,00 s/m R$90,00
3- Depois eu conto – R$110,00 s/m R$70,00
4- Boemia - R$110,00 s/m R$70,00
5- Sítio Encantado - R$125,00 s/m R$80,00
6- Babel - R$95,00 s/m R$80,00
7- Cabeças fantasiadas R$60,00 s/m R$45,00
8- Brinquedos – R$125,00 - s/m R$ 80,00
9- Coragem - R$90,00 - s/m R$75,00
10- Fantasiados – R$110,00 - s/m R$80,00
11- Iguais? - R$115,00 - R$80,00
12-  Senhor Imperador, na volta venha pousar no rancho da nhã Tuca... Simões Lopes Neto. Contos Gauchescos. - R$95,00 s/m R$80,00
13-  ...veio saindo uma gentama, muito em ordem, de a dois, de a três... Simões Lopes Neto - R$95,00 - S/ m R$80,00
14- Agora veja vancê se não foi mesmo o fungu daquela dona... que veio transformar tanto a amizade dos Farrapos? SLN. - R$95,00 - s/m R$80,00 

Eda Lani Fabris



1 - R$ 120,00
2 - R$ 120,00
3 - R$ 220,00
4 - R$ 100,00
5 - R$   80,00
6 - R$   80,00
7 - R$   40,00
8 - R$   60,00
9 - R$ 100,00
10 - R$ 100,00
11 - R$   90.00
12 - R$ 100,00
13 - R$   90,00
14 - R$ 320,00


Cylene Dallegrave




















1 - diptico - gravura em metal - R$ 300,00 (s/ moldura R$ 250,00)
2 - litografia - R$ 90,00  (s/moldura- R$ 75,00)
3 - litografia - R$ 90,00  (s/moldura- R$ 75,00)
4 - litografia - R$ 120,00 (s/ moldura - R$ 90,00)
5 - infografia R$ 120,00  (s/ moldura - R$ 90,00)
6 - gravura em metal - R$ 40,00 (s/ moldura - R$ 30,00)
7 - litografia - R$ 90,00  (s/moldura- R$ 75,00)
8 - litografia - R$ 90,00  (s/moldura- R$ 75,00)
9 - gravura em metal R$ 70,00  (s/ moldura R$ 50,00)
10 - gravura em metal R$ R$ 60,00 (s/ moldura R$ 50,00)
11 - infografia 100,00  (s/ moldura -R$ 65,00)
12 - gravura em metal R$ 80,00  (s/ moldura R$ 70,00)
13 - litografia - R$ 120,00  (s/ moldura - R$ 90)




quinta-feira, 18 de outubro de 2012

o convite final




willkommen Maria

Novidade super!! A reta de chegada é sempre empolgante. É nos últimos dias que a gente vai se envolvendo cada vez mais e tudo parece que fica mais claro. A gente já vinha há tempos comentando como era chato estarmos todos os Flechas na exposição menos a Maria, que no começo do ano preferiu ficar de fora, porque precisava se preparar para sua exposição de pinturas e outras coisas. Mas na terça-feira, com quase tudo pronto, fizemos uma última tentativa. Mandamos um e-mail pra ela, que está na Áustria (chegando amanhã) convidando para pelo menos uma participação especial na exposição. E ela topou!! Entonces, é isso aí. Mesmo sem flechas, vamos nos divertir junto de novo. Bem vinda Maria!!!

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

sugestão de release


Ao Belchior, exposição de gravuras

Gravuras contemporâneas em ambiente vintage é a proposta da exposição Ao Belchior, que inaugura no dia 25 de outubro, às 20h, na Pinacoteca da Ajuris – Rua Celeste Gobatto, 229. A exposição, que reúne obras de Cylene Dallegrave, Eda Lani Fabris, Lília Manfroi, Mabel Fontana, Marcos Sanches e a artista convidada Maria Tomaselli, homenageia a conhecida loja homônima que funcionou em Porto Alegre desde a década de 30 até a de 80, reunindo os mais variados objetos novos e usados.
             
Em 2008, os artistas, do grupo Aflecha, ilustraram o conto Ideias de Canário, de Machado de Assis, que descreve uma loja de belchior. A referência do autor à palavra, já em desuso na língua portuguesa (hoje encontra-se com mais frequência o termo brique) e a lembrança do pitoresco estabelecimento porto-alegrense, chamou a atenção dos gravadores. Ao aceitar o convite da Pinacoteca da Ajuris para a realização de uma mostra de gravuras, a inspiração vintage, despertada por essas coincidências, veio à tona.  

Graças ao apoio do antiquário e casa de leilões Ponto de Arte, a ambientação da sala de exposição recupera o estilo antigo, como convém à proposta. A diversidade dos pequenos objetos fica por conta das gravuras, apresentadas em molduras antigas ou novas, de muitas formas e tamanhos, obtidas e “envelhecidas” pelos próprios artistas ou garimpadas em feiras de antiguidades.

O registro do passo a passo da exposição, bem como o conto de Machado de Assis, a história da verdadeira loja Ao Belchior, os encontros no atelier, as gravuras, seus preços e outras curiosidades podem ser encontrados no blog. O período de visitação irá de 25 de outubro a 20 de dezembro, de segundas a sextas-feiras, das 7h30min às 22h 30min e aos sábados das 7h30min às 12h. Nos domingos e feriados a Pinacoteca da Ajuris estará fechada. 

Caixinhas



domingo, 14 de outubro de 2012

Release - Gravuras ao Belchior

Gravuras ao Belchior

Vem aí a abertura da exposição - Gravuras ao Belchior - dia 25 de Outubro a partir das 18 h na Pinacoteca da AJURIS. 

A ideia de um brechó em ambiente vintage e o nome Gravuras ao Belchior inspirou-se em trabalhos anteriores dos artistas, que culminou com um minilivro do conto Ideias de Canário de Machado de Assis e numa exposição no MARGS . As gravuras serão vendidas emolduradas ou não e os preços são coisas de Belchior.  
O grupo de gravadores é formado por Cylene Dallegrave, Eda Lani Fabris, Lília Manfroi, Mabel Fontana, Marcos Sanches e Maria Tomaselli como artista convidada. Pinacoteca da AJURIS, rua Celeste Gobato, 229, Bairro Praia de Belas, Porto Alegre.



A inspiração do nome da exposição Gravuras Ao Belchior


Ideias de canário
Machado de Assis

Um homem dado a estudos de ornitologia, por nome Macedo, referiu a alguns amigos um caso tão extraordinário que ninguém lhe deu crédito. Alguns chegam a supor que Macedo virou o juízo. Eis aqui o resumo da narração.

No princípio do mês passado, — disse ele, — indo por uma rua,sucedeu que um tílburi à disparada, quase me atirou ao chão. Escapei saltando para dentro de urna loja de belchior. Nem o estrépito do cavalo e do veículo, nem a minha entrada fez levantar o dono do negócio, que cochilava ao fundo, sentado numa cadeira de abrir. Era um frangalho de homem, barba cor de palha suja, a cabeça enfiada em um gorro esfarrapado, que provavelmente não achara comprador. Não se adivinhava nele nenhuma história, como podiam ter alguns dos objetos que vendia, nem se lhe sentia a tristeza austera e desenganada das vidas que foram vidas.

A loja era escura, atulhada das cousas velhas, tortas, rotas, enxovalhadas, enferrujadas que de ordinário se acham em tais casas, tudo naquela meia desordem própria do negócio. Essa mistura, posto que banal, era interessante. Panelas sem tampa, tampas sem panela, botões, sapatos, fechaduras, uma saia preta, chapéus de palha e de pêlo, caixilhos, binóculos, meias casacas, um florete, um cão empalhado, um par de chinelas, luvas, vasos sem nome, dragonas, uma bolsa de veludo, dois cabides, um bodoque, um termômetro, cadeiras, um retrato litografado pelo finado Sisson, um gamão, duas máscaras de arame para o carnaval que há de vir, tudo isso e o mais que não vi ou não me ficou de memória, enchia a loja nas imediações da porta, encostado, pendurado ou exposto em caixas de vidro, igualmente velhas. Lá para dentro, havia outras cousas mais e muitas, e do mesmo aspecto, dominando os objetos grandes, cômodas, cadeiras, camas, uns por cima dos outros, perdidos na escuridão.

Ia a sair, quando vi uma gaiola pendurada da porta. Tão velha como o resto, para ter o mesmo aspecto da desolação geral, faltava lhe estar vazia. Não estava vazia. Dentro pulava um canário.

A cor, a animação e a graça do passarinho davam àquele amontoado de destroços uma nota de vida e de mocidade. Era o último passageiro de algum naufrágio, que ali foi parar íntegro e alegre como dantes. Logo que olhei para ele, entrou a saltar mais abaixo e acima, de poleiro em poleiro, como se quisesse dizer que no meio daquele cemitério brincava um raio de sol. Não atribuo essa imagem ao canário, senão porque falo a gente retórica; em verdade, ele não pensou em cemitério nem sol, segundo me disse depois. Eu, de envolta com o prazer que me trouxe aquela vista, senti-me indignado do destino do pássaro, e murmurei baixinho palavras de azedume.

— Quem seria o dono execrável deste bichinho, que teve ânimo de se desfazer dele por alguns pares de níqueis? Ou que mão indiferente, não querendo guardar esse companheiro de dono defunto, o deu de graça a algum pequeno, que o vendeu para ir jogar uma quiniela?

E o canário, quedando-se em cima do poleiro, trilou isto:

— Quem quer que sejas tu, certamente não estás em teu juízo. Não tive dono execrável, nem fui dado a nenhum menino que me vendesse. São imaginações de pessoa doente; vai-te curar, amigo.

— Como — interrompi eu, sem ter tempo de ficar espantado. Então o teu dono não te vendeu a esta casa? Não foi a miséria ou a ociosidade que te trouxe a este cemitério, como um raio de sol?

— Não sei que seja sol nem cemitério. Se os canários que tens visto usam do primeiro desses nomes, tanto melhor, porque é bonito, mas estou vendo que confundes.

— Perdão, mas tu não vieste para aqui à toa, sem ninguém, salvo se o teu dono foi sempre aquele homem que ali está sentado.

— Que dono? Esse homem que aí está é meu criado, dá-me água e comida todos os dias, com tal regularidade que eu, se devesse pagar-lhe os serviços, não seria com pouco; mas os canários não pagam criados. Em verdade, se o mundo é propriedade dos canários, seria extravagante que eles pagassem o que está no mundo.

Pasmado das respostas, não sabia que mais admirar, se a linguagem, se as idéias. A linguagem, posto me entrasse pelo ouvido como de gente, saía do bicho em trilos engraçados. Olhei em volta de mim, para verificar se estava acordado; a rua era a mesma, a loja era a mesma loja escura, triste e úmida. O canário, movendo a um lado e outro, esperava que eu lhe falasse. Perguntei-lhe então se tinha saudades do espaço azul e infinito.

— Mas, caro homem, trilou o canário, que quer dizer espaço azul e infinito?

— Mas, perdão, que pensas deste mundo? Que cousa é o mundo?

O mundo, redargüiu o canário com certo ar de professor, o mundo é uma loja de belchior, com uma pequena gaiola de taquara, quadrilonga, pendente de um prego; o canário é senhor da gaiola que habita e da loja que o cerca. Fora daí, tudo é ilusão e mentira.

Nisto acordou o velho, e veio a mim arrastando os pés. Perguntou-me se queria comprar o canário. Indaguei se o adquirira, como o resto dos objetos que vendia, e soube que sim, que o comprara a um barbeiro, acompanhado de uma coleção de navalhas.

— As navalhas estão em muito bom uso, concluiu ele.

— Quero só o canário.

Paguei lhe o preço, mandei comprar uma gaiola vasta, circular, de madeira e arame, pintada de branco, e ordenei que a pusessem na varanda da minha casa, donde o passarinho podia ver o jardim, o repuxo e um pouco do céu azul.

Era meu intuito fazer um longo estudo do fenômeno, sem dizer nada a ninguém, até poder assombrar o século com a minha extraordinária descoberta. Comecei por alfabeto a língua do canário, por estudar-lhe a estrutura, as relações com a música, os sentimentos estéticos do bicho, as suas idéias e reminiscências. Feita essa análise filológica e psicológica, entrei propriamente na história dos canários, na origem deles, primeiros séculos, geologia e flora das ilhas Canárias, se ele tinha conhecimento da navegação, etc. Conversávamos longas horas, eu escrevendo as notas, ele esperando, saltando, trilando.

Não tendo mais família que dois criados, ordenava lhes que não me interrompessem, ainda por motivo de alguma carta ou telegrama urgente, ou visita de importância. Sabendo ambos das minhas ocupações científicas, acharam natural a ordem, e não suspeitaram que o canário e eu nos entendíamos.

Não é mister dizer que dormia pouco, acordava duas e três vezes por noite, passeava à toa, sentia me com febre. Afinal tornava ao trabalho, para reler, acrescentar, emendar. Retifiquei mais de uma observação, — ou por havê-la entendido mal, ou porque ele não a tivesse expresso claramente. A definição do mundo foi uma delas.

Três semanas depois da entrada do canário em minha casa, pedi-lhe que me repetisse a definição do mundo.

— O mundo, respondeu ele, é um jardim assaz largo com repuxo no meio, flores e arbustos, alguma grama, ar claro e um pouco de azul por cima; o canário, dono do mundo, habita uma gaiola vasta, branca e circular, donde mira o resto. Tudo o mais é ilusão e mentira.

Também a linguagem sofreu algumas retificações, e certas conclusões, que me tinham parecido simples, vi que eram temerárias.

Não podia ainda escrever a memória que havia de mandar ao Museu Nacional, ao Instituto Histórico e às universidades alemãs, não porque faltasse matéria, mas para acumular primeiro todas as observações e ratificá-las. Nos últimos dias, não saía de casa, não respondia a cartas, não quis saber de amigos nem parentes. Todo eu era canário. De manhã, um dos criados tinha a seu cargo limpar a gaiola e pôr lhe água e comida. O passarinho não lhe dizia nada, como se soubesse que a esse homem faltava qualquer preparo científico. Também o serviço era o mais sumário do mundo; o criado não era amador de pássaros.

Um sábado amanheci enfermo, a cabeça e a espinha doíam-me. O médico ordenou absoluto repouso; era excesso de estudo, não devia ler nem pensar, não devia saber sequer o que se passava na cidade e no mundo. Assim fiquei cinco dias; no sexto levantei-me, e só então soube que o canário, estando o criado a tratar dele, fugira da gaiola. O meu primeiro gesto foi para esganar o criado; a indignação sufocou-me, caí na cadeira, sem voz, tonto. O culpado defendeu-se, jurou que tivera cuidado, o passarinho é que fugira por astuto.

— Mas não o procuraram?

Procuramos, sim, senhor; a princípio trepou ao telhado, trepei também, ele fugiu, foi para uma árvore, depois escondeu-se não sei onde. Tenho indagado desde ontem, perguntei aos vizinhos, aos chacareiros, ninguém sabe nada.

Padeci muito; felizmente, a fadiga estava passada, e com algumas horas pude sair à varanda e ao jardim. Nem sombra de canário. Indaguei, corri, anunciei, e nada. Tinha já recolhido as notas para compor a memória, ainda que truncada e incompleta, quando me sucedeu visitar um amigo, que ocupa uma das mais belas e grandes chácaras dos arrabaldes. Passeávamos nela antes de jantar, quando ouvi trilar esta pergunta:

— Viva, Sr. Macedo, por onde tem andado que desapareceu?

Era o canário; estava no galho de uma árvore. Imaginem como fiquei, e o que lhe disse. O meu amigo cuidou que eu estivesse doido; mas que me importavam cuidados de amigos?

Falei ao canário com ternura, pedi-lhe que viesse continuar a conversação, naquele nosso mundo composto de um jardim e repuxo, varanda e gaiola branca e circular.

— Que jardim? que repuxo?

— O mundo, meu querido.

— Que mundo? Tu não perdes os maus costumes de professor. O mundo, concluiu solenemente, é um espaço infinito e azul, com o sol por cima.

Indignado, retorqui-lhe que, se eu lhe desse crédito, o mundo era tudo; até já fora uma loja de belchior.

— De belchior? trilou ele às bandeiras despregadas. Mas há mesmo lojas de belchior?

Texto extraído do livro “O Alienista e outros contos”, Editora Moderna – São Paulo, 1995, pág. 73.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

o convite, de novo

Pessoas,
ainda estou nessa luta do convite. Vocês não acham que assim fica mais bonito e  legível? Outra coisa importante que fiz foi colocar o logotipo do Ponto de Arte, que vai emprestar os móveis. Coloquei também  logotipo da fotoletra, nome que a Jane e eu usamos nos trabalhos de foto e design. Está faltando o horário de visitação. alguém aí pode conseguir pra nós?
cy


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

convite final

Gente, fiz as alterações sugeridas. Ficou faltando só a data do fim da exposição. Peçam para a Márcia essa informação. cy

domingo, 7 de outubro de 2012

Ao Belchior - reportagem no clicrbs

Marcos, achei tão legal a reportagem que resolvi copiar e colar aqui. Até porque o link que colocaste no teu post não funcionou comigo, tive que copiar e colar. Então, aí vai na íntegra, com os devidos créditos.
cy

Ao Belchior

15 de maio de 201210
Quando ele morreu, aos 100 anos, em 12 de maio de 1995 (portanto, 17 anos atrás), Porto Alegre perdeu um personagem marcante. Seu nome: Joaquim da Cunha. Sua profissão: belchior.
Foto: Valdir Friolin, BD, 11/10/1986
Mercador de objetos velhos e usados, diz o verbete do Dicionário Aurélio para definir essa palavra. De acordo com as inscrições na fachada da loja com esse nome, que Joaquim manteve por 50 anos na Rua da Praia, próximo ao antigo Cine Cacique, ele era mais que isso. Lá estava escrito: "Compra de tudo / Vende de tudo".
Foto:  arquivo pessoal de Jorge Leão
Foto: reprodução
Joaquim era português nascido em Souselas, próximo a Coimbra. Chegou ao Brasil em 1911, em 1927 veio para a Capital e, em 1930, fundou o mais incrível brique que a cidade já teve. No primeiro endereço ficou até 1980, quando mudou-se para a Marechal Floriano, 750/754.
Foto: arquivo pessoal de Jorge Leão
Quem conheceu a casa de comércio de Joaquim, especialmente a da Rua dos Andradas, jamais se esquecerá dela. Além das vitrinas – abarrotadas dos mais inusitados objetos, que só poderiam ser retirados dali com enorme esforço –, um odor característico misturava mofo, poeira e ferrugem com o aroma dos tempos idos.
Foto: Valdir Friolin, BD, 11/10/1986
Um trompete, uma bússola, pregos oxidados (usados e tortos), um sino, escova, moedas, leque, quadros, lampião, louça, serrote, câmara fotográfica, ovo de madeira para coser meias...
Foto: Dulce Helfer, BD, 19/11/1992
(colaborou Jorge Leão)
Você lembra da loja Ao Belchior? Deixe seu comentário.